Projeto de bioeconomia vai alavancar agroindústria de pinhão e gerar renda para pequenos produtores rurais

A Embrapa Florestas (PR) e a Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ), em parceria com o Consórcio Intermunicipal para Desenvolvimento Regional (CONDER), estão conduzindo um projeto com o objetivo de apoiar a implantação de uma unidade agroindustrial de processamento de pinhão e fortalecer o turismo rural na Terra dos Pinheirais, região centro-sul do Estado do Paraná.

        O beneficiamento do pinhão, semente da Araucaria angustifolia, alimento muito apreciado no Sul do Brasil, é uma das formas de agregar valor ao produto e incrementar a renda de famílias que residem no meio rural.

            A unidade agroindustrial será instalada, a princípio, no município de Inácio Martins/PR, com recursos aprovados pelo Conder junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para apoio à Bioeconomia. Além de já beneficiar a comunidade, também funcionará como Unidade de Referência Tecnológica (URT) para outras iniciativas que queiram desenvolver trabalho semelhante.

            O projeto inclui, além da definição do layout e dos equipamentos da agroindústria, uma série de capacitações em processamento do pinhão, para a comunidade local, e em produção de mudas enxertadas de araucária, para produtores e técnicos extensionistas. Na agroindústria será implantada uma unidade de processamento de farinha de pinhão, desenvolvida pela Embrapa, e também uma linha para obtenção de pinhão descascado congelado e outros produtos de interesse.

          Na questão do turismo, o projeto prevê a adequação de rotas turísticas e treinamento na área gastronômica com pratos à base de pinhão cozido e farinha de pinhão, além de um livro de receitas, o segundo a ser coordenado pela Embrapa Florestas, que irá explorar novas tendências de consumo para o pinhão e gastronomia histórica. Essa etapa será conduzida pela nutricionista Maria de Fátima Oliveira de Negre.

         A pesquisadora Rossana Catie de Godoy, da Embrapa Florestas, responsável pelo projeto, destaca que as ações desenvolvidas serão de grande impacto para a população da região, onde vivem 205.814 pessoas: “Nesse caso, o uso sustentável dos produtos da sociobiodiversidade é fundamental para garantir o provento dessas populações de baixa renda. A coleta e venda do pinhão é praticada na região a preços muito baixos, em beiras de estradas ou para atravessadores. Portanto, o beneficiamento do pinhão em produtos de maior valor agregado é um fator decisivo como alternativa de renda para essas comunidades”, ressalta Godoy.

          O produtor rural Sebastião Cabral, do município de Inácio Martins, concorda: “In natura o preço do pinhão no mercado é baixo. Industrializando, melhora as vendas porque agrega valor ao nosso produto. Na minha propriedade, trabalho com hortifruti e o pinhão vai ser uma renda a mais”.

          O Conder compreende 11 municípios localizados no Sudeste e no Centro-Sul do Estado do Paraná: Rio Azul, Rebouças, Irati, Mallet, Prudentópolis, Inácio Martins, Fernandes Pinheiro, Guamiranga, São Mateus do Sul, Imbituva e Teixeira Soares. São 8.340 km² de extensão territorial, dos quais 45% apresentam vegetação florestal nativa (Floresta com Araucária). Em alguns municípios, como Inácio Martins, a floresta nativa alcança até 60% da área municipal, conforme o mapeamento do uso do solo publicado em 2019 pelo Instituto Água e Terras do Paraná (IAT).

          Desde o fim de 2021, as equipes da Embrapa Florestas e da Embrapa Agroindústria de Alimentos têm antecipado vários testes para controle da qualidade dos produtos a serem processados na agroindústria, principalmente a farinha de pinhão. Os testes para a farinha têm correlacionado diferentes condições de matéria prima com as características dos produtos finais.

           A pesquisadora Rossana Catie de Godoy explica que o produto a ser comercializado precisa estar em conformidade com a legislação sanitária no que se refere aos padrões de identidade e qualidade de farinhas, controle microbiológico, matérias estranhas e fragmentos de insetos.

           “Mesmo depois do processamento da farinha ter sido viabilizado em nível agroindustrial, pelo sistema de descascamento mecânico, é um produto novo e temos que minimizar as incertezas para levá-lo às prateleiras dos estabelecimentos. Assim, é fundamental que sejam simuladas as operações de higiene e sanitização na indústria, já em escala maior, a análise de perigos e pontos críticos de controle bem como o tempo de vida útil na embalagem final”, relata.

           Todas as informações geradas nos estudos e ações preliminares subsidiarão as Boas Práticas de Fabricação e os selos de certificações que serão acrescidos aos produtos, como estratégia de agregação de valor: “Pretende-se que o produto alcance as exigências de mercados externos, pois já existe empresa internacional interessada”, acrescenta Catie.

           Também já foi realizado um estudo de viabilidade técnica do empreendimento e estudo de mercado com mais de 500 consumidores e 60 empresas do segmento. Os resultados são considerados animadores pela equipe, pois os preços consultados foram considerados justos pelos consumidores ao mesmo tempo em que remuneram positivamente os produtores.

           “É um grande desafio para toda a equipe que consta de engenheiro agrônomo, engenheiros de alimentos especialistas em produtos desidratados e microbiologia, além de engenheiro mecânico especialista no desenvolvimento de equipamentos e instalações industriais. Um time de profissionais engajados, competentes e qualificados para essa iniciativa”, finaliza a pesquisadora.

Fonte: Embrapa

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