#tbt: confira a entrevista com Pedro Alves Corrêa Neto

Proteger, guiar e servir

O SFB (Serviço Florestal Brasileiro) é o órgão responsável por monitorar, analisar, conceder concessões e apresentar diretrizes para o desenvolvimento do mercado florestal do Brasil. Esse trabalho é liderado por Pedro Alves Corrêa Neto, que assumiu o cargo com objetivo de alcançar as metas e desafios traçados para o SFB e trazer mais transparência e valorização para um dos setor de grande importância econômica e ambiental.

Pedro Alves Corrêa Neto

Bacharel em Ciências Econâmlcas pela Universidade Católica de Brasílla, especialista em Gestão de Projetos — Fundação Getúlio Varas – FGV. MBA Formação de executivos -Fundação Dom Cabral – FDC.

FLORESTAL: Como foi a sua chegada ao SFB?

Pedro Neto: Cheguei ao MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) em 2015 e sempre fui um gestor público com atuação foi em áreas finalísticas. Fui diretor do departamento de produção sustentável, de 2016-2018, trabalhando com pautas de sustentabilidade, como agricultura de baixo carbono, irrigação, agricultura ou agropecuária conservacionista, áreas de florestas plantadas também, depois em 2019, eu me tornei secretario adjunto de inovação e desenvolvimento rural e irrigação. Em 2021, por conta da minha trajetória e por conhecer os temas do SFB a ministra Tereza Cristina me delegou esse desafio.

Qual o desafio do SFB?

Pedro Neto: O desafio aqui no SFB é acelerar as entregas que temos que cumprir, pela obrigação regimental e pela grandeza e importância delas para o país. Falamos da implementação do código florestal, de um processo amplo de regulamentação ambiental de propriedades rurais no Brasil todo e outro processo igualmente interessante e estratégico que é o de economia florestal.

Qual a importância do SFB para o mercado florestal nacional?

Pedro Neto: A importância é grande não apenas para o mercado florestal nacional, mas também do mundo, pois o potencial de exploração madeireira no Brasil é enorme e a importância do SFB extrapola nossas fronteiras. O SFB é o órgão gestor das políticas voltadas às concessões florestais em áreas públicas, também responsável pela implementação do código florestal brasileiro, em especial a parte de regulamentação ambienta. Podemos pensar que regulamentação ambiental não tem a ver com o mercado florestal, mas tem. Se imaginarmos que os produtores rurais tem que manter, dentro de suas áreas privadas, aquela área de reserva legal e as áreas de preservação permanente, onde eventualmente exista a necessidade de recomposição, também temos o componente florestal. O SFB é o grande guia, o equalizador, da política pública do setor florestal, desde o fomento, inovação e desenvolvimento florestal, que são grandes componentes da temática da economia florestal, até a pauta normativa e regulatória. Antão cabe ao SFB ditar tendências, organizar ajustar e inovar nos marcos regulatórios, mas também promover e estimular a inovação, pesquisa e desenvolvimento, novos usos, novos serviços , novos produtos, tanto nas cadeias produtivas madeireiras, quanto não madeireiras, ale daquela atividade florestal que advém da regularização ambiental.

Quais são suas propostas para o SFB em relação a valorização do mercado de florestas?

Pedro Neto: A primeira delas é realizar um avanço num mercado muito importante, que é o das concessões florestais. Uma área de manejo florestal sustentável, quando concedida através da concessão, pressupõe, com muita robustez, um intenso processo deplanejamento participativo das formas de manejo, levando em conta a participação dos povos daquela floresta que será concedida para manejo. Também promove a guarda e o zelo das áreas de floresta, que a principio deveriam ser monitoradas pelo poder publico, que muitas vezes não tem pernas o suficiente, afinal são milhões de hectares de floresta. Também o processo de concessão florestal permite a geração de renda e de agregação de valor de forma sustentável, tanto para a atividade madeireira, quanto para a não madeireira, além de promover acesso para o mundo todo. Como expliquei, a importância do SFB extrapola as nossas fronteiras, de madeira de fonte limpa, oriunda de manejo sustentável e não  de exploração ilegal. A minha visão para o mercado de florestas é essa, damos maior escala  quantidade de metros cúbicos de madeira vinda de FLONAS (Florestas Públicas Nacionais), além de florestas não ordenadas, que é um grande problema de ordenamento que o Brasil tem. 

FLORESTAL: Essas práticas são para o mercado madeireiro. Existem práticas para outros setores?

Pedro Neto: Se olharmos para outros segmentos, além do madeireiro, eu também aposto muito, no contexto florestal, na cadeia de recuperação ambiental, que vem da necessidade de produtores rurais, e de alguns empreendimentos de infraestrutura, de fazer a composição de áreas. O produtor rural, que tem passivo ambiental e terá que recompor alguma área em sua fazenda, terá que comprar mudas, sementes, adubo, contratar um extensionista para a fazer a recomposição. Uma área de estrada, ferrovia ou hidrelétrica, aeroporto ou porto também precisa, por conta de seus relatórios de impacto ambiental, promover algum tipo de compensação, a cadeia da recuperação envolve esses atores citado. Então são essas duas, o mercado da madeira com a sua expansão através dos processos de concessão florestal, tanto em FLONAS quanto em florestas públicas não destinadas, como também a cadeia da recuperação. Esses são grandes balizadores do mercado florestal. 

FLORESTAL: Quais os principais impedimentos para o desenvolvimento do mercado da madeira do Brasil?

Pedro Neto: Essa é uma questão interessante e é uma pena a resposta que vou dar. O principal entrave é a ilegalidade. É aquele pirata, ou ladrão de madeira, que faz o desmatamento ilegal e confunde o mercado madeireiro. O SFB realiza um processo seguro de promoção de oferta de madeira no mercado, que é através das concessões, que é monitorado e transparente. Essa madeira que vem de forma legal se mistura com uma imensidão de madeira ilegal e causa insegurança, causa uma visão distorcida sobre o mercado madeireiro. A pessoa olha para a peça de madeira naturalmente já em dúvida sobre a origem ser legal ou não. Um grande entrave, não posso dizer que é o maior, é a necessariamente a imagem do setor. Essa imagem infelizmente não foi criada sobre os processos responsáveis de exploração e sim naquela atividade criminosa de extração ilegal de madeira. 

FLORESTAL: Na avaliação do SFB, qual o nível de credibilidade da madeira negociada pelo Brasil para o exterior?

Pedro Neto: Na verdade essa reflexão não se deve apenas aos produtos de origem madeireira, ou para os produtos de origem florestal. Se analisarmos, recaem certas duvidas sobre vários produtos que estão abaixo do MAPA, sobre a sua origem e local de produção. Então, para o segmento florestal também pesa, a necessidade da demonstração cada vez mais evidente do compliance ambiental. Para o setor florestal e de produtos madeireiros, é cada vez mais importante que essas cadeias produtivas reforcem a visão para todo o mercado consumidor do seu compliance ambiental. No segmento florestal isso se aplica através de processos de certificação, de madeira oriunda, no caso das explorações em áreas privadas, como as fazendas, que fogem do processo de concessão citado, mas também são passíveis de manejo. Quanto mais formos capazes de empreender uma narrativa positiva em cima dos fatores de legalidade da colheita da madeira em áreas privadas ou em concessões, mas teremos condições de afirmar esse compliance ambiental. Seja uma área privada, que é de responsabilidade plena do empreendedor, seja numa área de floresta publica, que ai o SFB dita as regras de como esse manejo sustentável. Esse é o caminho, evidenciar o compliance

FLORESTAL: Qual o melhor caminho para que o Brasil se torne uma potência no mercado madeireiro mundial?

Pedro Neto: É através da melhora da performance do manejo sustentável, da criação de mecanismos cada vez mais robustos de demonstração do compliance ambiental e o avanço em uma pauta de duas vias: acelerar os processos de concessão de áreas de florestas públicas e glebas não destinadas para concessão, que trazem dois tipos de benefícios: garantir a exploração sustentável da área, garantindo também a guarda da madeira, a diminuição do desmatamento e ilegalidade, e também gerar emprego e renda para as comunidades que estão naquelas áreas. A outra frente é o manejo florestal em áreas privadas, onde possamos de forma inteligente, demonstrar a viabilidade econômica e segurança jurídica para que espaços privadas também entrem nesse processo de manejo sustentável. O caminho é garantir o compliance, agregar valor e aumentar a oferta através de caminhos responsáveis e inteligentes.

FLORESTAL: Quais as ações do SFB são relacionadas a promoção de manejo sustentável?

Pedro Neto: Um processo de concessão nasce naturalmente de forma participativa, ouvindo  as comunidades que estão na área passível de concessão. Por outro lado, também se dialoga muito com órgãos de controle e fiscalizadores, para que eles entendam desde o principio que as áreas que serão passíveis de manejo, que os projetos e planos de manejo irão necessariamente contemplar as necessidades, expectativas e as reservas que precisam ser feitas para aquelas comunidades que originalmente estão naquelas áreas. Ou seja, você não pode expulsar pessoas ou gerar o impacto ambiental que inviabilize a permanência dessas pessoas ali. Pelo contrário, como esse processo é muito trabalhoso e participativo desde o inicio, o outro tipo de associação que fazemos aqui é com aquelas organizações sociais ou de governo que possam nos apoiar num processo de consolidação de imagem. Uma floresta que é alvo de manejo sustentável não é agredida. Um processo de manejo só imita o processo natural da dinâmica da floresta, mas ao invés dela acontecer de maneira natural e sem orientação técnica, a colheita das arvores acontecem de forma organizada e segura, a ponto daquela arvores que cai não derrubar as outras, não leva o arrasto de galhos e cipós de uma árvore sobre a outra. Aquela madeira, da árvore que é colhida vai para o mercado. O processo natural é da arvore crescer e ficar com a copa desenvolvida e sofrer a ação do tempo, levando a queda. No processo de manejo isso é planejado, é feito o inventário florestal da área de concessão e o concessionário sabe exatamente que arvore ele deve colher e quando. Para que esse processo de manejo imite o processo natural e a árvore não seja perdida. Ao longo de 20 anos, que é o período médio de concessão o concessionário recebe floresta e devolve floresta. Ela não morre nem diminui, ela tem seu ciclo natural acompanhado, de forma a garantir que a madeira que cai não será perdida e sim aproveitada. O sistema de manejo não é agressivo, ele só antecipa um pouco a ação natural de maneira planejada e organizada para que a madeira seja aproveitada e comercializada. 

FLORESTAL: Qual a atuação do SFB em relação as florestas plantadas?

Pedro Neto: O olhar para essa floresta é voltado ao conhecimento da dimensão da área de floresta  no Brasil. O SFB oferece uma linha de tecnologia e inovação focada em produtividade para o mercado madeireiro, desde a parte de engenharia, para estudo físico, de característica da madeira, prospecção de uso para as diferentes espécies de madeira disponíveis, adaptação ou criação de equipamentos de classificação para uso da madeira. Uma linha interessante de química, biomoassa e energia para uso do subproduto, como pó da serra e tocos de madeira, com uma série de mecanismos que podem auxiliar no aproveitamento desses materiais. Eles são desenvolvidos no laboratório de produtos florestais, que fica em Brasília, mas que atua em todo o país. Nessa área de móveis, construção civil, energias alternativas, química, tudo isso o SFB tem um portfólio disponível para o Brasil todo. Essas tecnologias chegam através das parcerias que o SFB tem com as universidades, com agencias de desenvolvimento florestal e através de um portal de educação chamado: Saberes da Floresta.

Entrevista da REFERÊNCIA FLORESTAL, edição 233.

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