Liderança renovada
A ABAF (Associação Baiana das Empresas de Base Florestal) atua há 18 anos na defesa e desenvolvimento do setor florestal do Estado. O trabalho da associação fortaleceu o setor madeireiro do estado e ajudou a estabilizar a Bahia como o maior produtor de celulose do país. A partir de 2022, Mariana Lisbôa assume a presidência do Conselho Diretor da ABAF durante o biênio que vai até 2024. Mariana é a primeira mulher a assumir o cargo e contou sua história e os planos pra associação neste período. Confira.
Currículo
Advogada e Head Global de Relações Corporativas da Suzano S/A. Formada em Direito, com larga experiência na área Ambiental e mais de 20 anos de atuação profissional, mais da metade deles dedicados ao setor florestal, hoje representa institucionalmente a Suzano na liderança de projetos envolvendo os setores público e privado, em todos os níveis: municipal, estadual, federal e internacional. Sob sua gestão, também está toda a área de Licenciamento Ambiental da Suzano
REFERÊNCIA:Como foi seu início e histórico dentro do setor florestal?
MARIANA: Meu início no setor florestal e minha participação na ABAF se confundem. Comecei em 2009, na antiga Bahia Pulp, hoje Bracell. Inicialmente como advogada da área ambiental e, depois, como gestora da área de Relações Externas, quando tive a oportunidade de também integrar, como representante da empresa, o quadro da diretoria da ABAF. Desde então, esta associação já exercia um papel relevante de representação do setor, além de ser um fórum importantíssimo de integração e discussão entre as empresas associadas, o que me deu a possibilidade de construir uma visão profunda e global dos grandes desafios e oportunidades que circundam o setor florestal.
REFERÊNCIA: Qual sua visão a curto e longo prazo para o setor florestal da Bahia?
MARIANA: A Bahia já é um importante player no setor e tem sua base industrial bem diversificada. Destacam-se entre os principais produtos do setor florestal baiano, a celulose de fibra curta, celulose solúvel/especial, papel/papelão, madeira serrada, madeira tratada, móveis de madeira, carvão vegetal, ferro-liga, além de biomassa/pellets e resíduos oriundos da atividade florestal, que suprem a indústria do agronegócio e de bioenergia no estado. Somos o 4º estado em plantios de eucalipto, com 618 mil hectares de plantações florestais (e outros 330 mil hectares de florestas nativas destinadas à preservação ambiental). Por aqui são plantadas 250 mil árvores por dia; matéria-prima para fins comerciais. O setor cresce em nível mundial e temos nos dedicado à atração de novos investimentos, notadamente na área de serrarias, móveis e itens da construção civil onde ainda somos importadores. A Bahia pode ter bons projetos nas áreas que serão atendidas por ferrovias (leste a oeste com a Bamin e o ramal de VLI que corta a Bahia de Norte a Sul), o que disponibilizará novas áreas de expansão do setor florestal.
REFERÊNCIA: Como a ABAF irá tratar as pautas de ESG dentro das empresas associadas?
MARIANA: Nossas empresas já consideram as boas práticas de ESG há muito anos. Todas consideram os ODS da ONU, as práticas de sustentabilidade, as exigências das leis nacionais e as certificações internacionais que todas têm. As estaduais florestais, que são 10 no país, estão trabalhando em conjunto, no âmbito da IBÁ, nossa entidade nacional, para o aprimoramento das recomendações de ESG. Há um grupo de especialistas das empresas trabalhando permanentemente, e em conjunto, nesse sentido.
REFERÊNCIA: Qual a importância das empresas florestais se associarem à ABAF?
MARIANA: A ABAF, criada há 18 anos, reúne as empresas florestais, os produtores, seus fornecedores e tem, como objetivo principal, fortalecer e ampliar as atividades florestais no estado, visando sempre a inclusão dos pequenos e médios produtores e processadores de madeira – e seu uso múltiplo. Nossas ações nos possibilitam a defesa dos interesses da silvicultura e de nossos associados, além de uma atuação coerente e alinhada com o desenvolvimento sustentável do estado. Trabalhamos com a orientação dos membros do Conselho Diretor da ABAF, dos Grupos de Trabalho permanentes e formados sob demanda e da cooperação que temos com as empresas associadas e demais parceiros no Governo (União, Estado e nos municípios), no Legislativo, no setor empresarial, junto a instituições do setor florestal e do agro, comunidades, fornecedores de serviços, produtos e equipamentos, produtores rurais, ONGs, academia, entre outros. Assim, procuramos mostrar o setor, suas potencialidades e contribuições ao adequado crescimento e desenvolvimento do país.
REFERÊNCIA: Em que as empresas se beneficiam nessa associação? Quais atividades planejadas para os associados? Existem planos?
MARIANA: A força da ABAF está na colaboração e interação das empresas que, através de seus representantes na entidade, trazem e trocam experiências em diversos assuntos. Tratamos em conjunto temas ambientais, sociais e econômicos que se referem às empresas, aos consumidores dos nossos produtos, às comunidades e municípios onde atuamos. A ABAF participa de 40 fóruns nacionais e locais, levando e trazendo conhecimento, sugestões e projetos que interessem a todos do nosso setor. Assim, com a expertise dos especialistas das empresas, em cada área, podemos propor, defender e implantar projetos e ações que possam reduzir os entraves e proporcionar um ambiente empresarial favorável ao crescimento sustentável da nossa base florestal.
REFERÊNCIA: Quais as práticas importantes para a valorização dos produtos florestais produzidos no Estado?
MARIANA: Considerando as oportunidades de expansão das florestas plantadas e do uso de produtos florestais em diversas cadeias produtivas, é evidente que o setor de árvores cultivadas possui reconhecido potencial de contribuição em diversas frentes no nosso país. Além disso, é reconhecido o cuidado com a natureza (seja na reciclagem, na produção e no manejo sustentável nas áreas de cultivo, que intercalam áreas produtivas com grandes áreas de conservação) e com o investimento constante em pessoas, tecnologia e ciência. São fatores fundamentais para que a indústria de base florestal atenda aos consumidores e cuide do meio ambiente, inclusive no combate às mudanças do clima. Nossas empresas trabalham com regras bem definidas de boas práticas desde o planejamento de produtos até a satisfação dos nossos clientes. A adoção, cada vez mais, das certificações nacionais e internacionais que comprovam as especificações técnicas e o atendimento das questões ambientais e sociais ajudam muito na aceitação dos nossos produtos. O setor florestal traz exemplos de um trabalho sério pautado nas novas utilizações da madeira plantada para atender novos hábitos de consumo sustentável.
REFERÊNCIA: Quais as expectativas de produção e exportação do setor neste ano?
MARIANA: A demanda por produtos de madeira (cerca de 5 mil produtos que usamos no dia a dia) continua crescendo no Brasil e no mundo em função do aumento da população, aumento da renda e pelo desenvolvimento de produtos com novas tecnologias nas áreas de biomateriais, nanoteconologia etc. Atendemos a demanda de vários segmentos econômicos que usam madeira nos seus processo produtivos como mineração, energia, grãos, papel, materiais hospitalares, celulose, têxtil, embalagem, construção civil, móveis etc. Em relação à produção de madeira em tora, sabe-se que o estado da Bahia é reconhecidamente um dos principais neste quesito, sendo responsável pela produção de 12,1 milhões de m3 (em 2019, relatório Bahia Florestal), o que faz o estado ocupar o 7° lugar no ranking geral de produção de tora do país. A produção de celulose, por sua vez, é outro destaque do estado. Em 2020, estima-se que a produção tenha sido de 3,21 milhões de toneladas de celulose branqueada (utilizada para a fabricação de papel) e celulose solúvel/especial (utilizada pela indústria têxtil, farmacêutica e alimentícia, por exemplo). Este volume representa participação de 15% da produção brasileira de celulose, refletindo assim a importância nacional e estadual dessa indústria. Quanto ao comércio internacional, o setor de base florestal plantada da Bahia segue com perfil exportador, contribuindo relevantemente para o saldo da balança comercial do estado. Em 2020, o setor foi responsável por exportar US$ 1,2 bilhão. Este montante representa cerca de 15% do total das exportações estaduais, fazendo com que o setor florestal esteja sempre entre os três primeiros da economia estadual, quando considerado o comércio internacional.
REFERÊNCIA: Politicamente, quais conquistas você projeta por meio da ABAF?
MARIANA: Mantemos um diálogo permanente com o legislativo, o executivo e o judiciário, da mesma forma que dialogamos com a sociedade civil e as comunidades. Assim, podemos sempre contribuir para a construção de políticas públicas em favor do crescimento e desenvolvimento do nosso estado, levando empregos de qualidade, renda para pessoas, impostos para os municípios, principalmente nas mais distantes regiões do estado, pois atuamos em quatro polos de produção: Sul e Extremo Sul, Sudoeste, Oeste e Litoral Norte.
REFERÊNCIA: Você tem uma longa experiência na área de proteção ambiental, e agora está à frente de uma Associação que tem como foco ampliar a produtividade florestal. O que o mercado pode esperar da sua gestão?
MARIANA: Graças aos investimentos coerentes no desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias, às vantagens climáticas, o Brasil e a Bahia têm produtividade recorde de madeira no mundo. Nosso rendimento tem média de 36 m3/ha/ano enquanto os principais países concorrentes não ultrapassam 18m3/ha/ano. O setor planta, colhe e planta novamente, somente em áreas degradadas, portanto sem desmatamento. Com o uso da técnica de mosaico, as empresas de base florestal intercalam os plantios com finalidade industrial com áreas destinadas para conservação. O setor de florestas plantadas na Bahia tem mais de 300 mil hectares de florestas nativas preservadas e algumas empresas já tem 1 hectare de mata nativa preservada para cada hectare de produção. Isto auxilia na manutenção de um solo fértil, no cuidado com a água e na preservação da biodiversidade. Nossas florestas absorvem grandes quantidades de carbono da atmosfera e merecem reconhecimento e compensação por isso. Vamos continuar investindo, mantendo os princípios rígidos de produzir e preservar, como temos feito. Esse é o caminho: crescendo e preservando, atendendo as demandas dos nossos clientes e contribuído com a melhoria de vida das pessoas e nos municípios onde atuamos.
REFERÊNCIA: Sabemos que há poucas mulheres no comando das principais entidades representativas florestais do país. Como se sente sendo uma delas?
MARIANA: Esta nomeação tem um valor especial para mim, pois é a primeira vez que uma mulher assume a presidência da ABAF, que completou 18 anos no último mês de março. O setor florestal vem investindo em projetos de incentivo e em ações que contribuam para aumentar a presença de mulheres em todos os níveis hierárquicos, fortalecendo nosso compromisso com a justiça social e reconhecendo a importância e os ganhos da diversidade, equidade e inclusão. Espero que minha nomeação inspire outras mulheres a abra espaço para que aumentemos nossa representatividade em todas as posições sociais.
REFERÊNCIA: A exemplo da Suzano, que recentemente ampliou a participação feminina no seu quadro em mais de 50%, como você enxerga o crescimento da presença feminina no setor?
MARIANA: É dever de todos e de todas defender que, cada vez mais, mulheres ocupem posições, especialmente de liderança, nos mais diversos setores de produção do país. Não poderia ser diferente no setor florestal, que é um setor pujante e referência global em temas fundamentais para a humanidade, como o sequestro de carbono, contribuindo de forma substancial para minorar os impactos das mudanças climáticas. Assim, a presença cada vez maior de mulheres traz ganhos expressivos para as discussões e alcance de resultados, fortalecendo, como eu disse acima, o nosso compromisso com valores inegociáveis, como a equidade, a inclusão e a justiça social.
REFERÊNCIA: A ABAF cresceu muito em representatividade no setor nos últimos anos. Qual será o legado de sua gestão a frente do conselho da ABAF?
MARIANA: Queremos ampliar o olhar sobre a floresta. Mostrar, cada vez mais, para a sociedade, as contribuições sociais e ambientais trazidas pelo setor para o Planeta. O nosso papel transcende à economia no sentido estrito. O nosso maior valor está na preservação ambiental, na melhoria da qualidade de vida das pessoas no entorno das nossas operações, no protagonismo no combate à emissão de gases poluentes na atmosfera. Recuperamos áreas degradadas, sequestramos carbono, geramos emprego. Gostaria, na minha gestão, de aproximar o setor das pessoas, para que cada vez mais todos tenham a exata noção da nossa contribuição para esta e para as próximas gerações!
Entrevista da REFERÊNCIA FLORESTAL, edição 240.