Claudio Ortolan avalia cenário da oferta de madeira na Região Sul

Diretor da Klabin será um dos palestrantes da 15ª Codornada Florestal

        Claudio Ortolan é diretor estratégico florestal da Klabin e tem acompanhado o aumento crescente da demanda por madeira na Região Sul do Brasil. Com esse mercado aquecido, os produtores e indústrias irão conseguir acompanhar e manter a oferta compatível a essas necessidades? Ortolan será um dos palestrantes da 15º Codornada Florestal, em Curitibanos (SC). O diretor da Klabin irá promover um debate sobre os motivos de se investir em florestas na região e concedeu entrevista exclusiva para a Forest News sobre o tema.

Como você avalia a oferta de madeira no mercado da Região Sul?

       Ela sempre teve seu espaço no mercado, mas ela tem um atrativo extraordinário agora por demandas por esse efeito de ser um material renovável, reciclável, de baixa pegada de carbono, que já tinha demandas crescentes por aumento de população e de renda e agora tem esse apelo adicional. E esse apelo é mais sensível na parte de papel e celulose, na substituição de plástico, como em sacolas e embalagens. Um exemplo é a demanda para o e-commerce.

        Assim a fibra longa tem um papel, que é a madeira que mais interessa em Santa Catarina, cujo mercado principal é o pinus. Então na parte do papel e celulose que vai pinus ele está com uma perspectiva excelente de mercado.                   Sobre o ponto de vista da demanda, o futuro é bem promissor. Qual é o problema? Nós passamos por um período longo de desbalanceamento do mercado, em que tínhamos mais oferta do que demanda, porque a oferta foi criada por incentivos fiscais e a demanda industrial foi crescendo ao longo do tempo. Hoje está mais ou menos acordado que a demanda atingiu a capacidade de oferta. O problema é que não é como milho ou soja que você planta um pouco mais e no ano seguinte tem a colheita, no caso da madeira você tem a demora entre plantar e conseguir o manejo.

        Na parte de oferta tem duas questões. A primeira é a inércia e a segunda é a competição por terra, que é um recurso finito, até pela competição com a agropecuária. A madeira tem por si uma demanda forte, mas ao mesmo tempo uma dificuldade no acesso a terras disponíveis para o plantio. Esse negócio da escassez não é regional, nem mesmo só brasileiro, ele é mundial. A população e a demanda continuam aumentando, em especial por produtos florestais como chapas, madeiras serradas, pellets para energia renovável, que ganham cada vez mais espaço, não apenas pela sustentabilidade, mas pela necessidade da diminuição da dependência das nações europeias ao gás russo.

        Temos o aumento dos demais usos da madeira e já não temos muitas mais áreas para ampliarmos a produção florestal. Boa parte da madeira já é produzida em áreas de plantios florestais, porque as áreas nativas estão sendo deixadas como locais de preservação. Então a área florestal tem uma dificuldade de expansão e isso não é apenas em Santa Catarina. O Brasil é um dos poucos países com potencial de expansão, em especial no Mato Grosso do Sul. Os países da África são uma incógnita e não acredito que nessa geração vamos ver um aumento na produção. Já na Ásia há pouca margem para expansão, sendo que o eucalipto domina os espaços visíveis, sendo uma madeira dura e de fibra curta, o que valoriza ainda mais o mercado regional do Sul do Brasil em ter florestas muito produtivas de pinus.

Como esse cenário irá impactar em pequenos e médios produtores e industriais florestais?

       Eu acho que para a indústria essa visão de um aumento de demanda e dificuldade de aumentar a oferta ela vai ser bem desafiadora. Não vai ter madeira para todo mundo e vai ter gente que não vai conseguir se abastecer. A contrapartida é que isso é muito produtivo ao produtor da madeira. Lógico que é melhor para aquele que é integrado, tendo floresta e indústria. Para ele, o cenário é positivo, mas para quem depende muito do mercado a pressão da demanda vai indicar o valor. Isso é bom para o produtor que vai ter um retorno melhor para o produto.

        Imagina-se que as decisões econômicas são racionais e com esse preço alto de madeira vai ter mais gente querendo investir. O investimento hoje vai resultar em volume daqui a 15, 16 anos. É uma pena que esse investimento não se converta imediatamente em indústria e emprego, é um processo mais lento. Mas está indo na direção de aumentar o retorno sobre o investimento florestal.

         Por outro lado, o cara que possui a terra e está pensando em plantar está favorecido por esse cenário. Mas quem depende de comprar ou arrendar, vai bater na limitação, que por um lado o preço da madeira está alto, mas o preço da terra também. A tendência é que a atividade florestal consiga, em comparação com preços de cinco anos atrás, uma capacidade frente à agropecuária interessante, onde a decisão de produtores pode englobar mais a produção da madeira.

         Fora o cenário interessante da Integração Lavoura Pecuária e Floresta (ILPF), em que você produz as duas coisas. Na propriedade você tem a pecuária e a floresta, o que diminui os riscos, porque você tem duas atividades e não coloca todos os ovos em uma cesta só. Além disso, a floresta tem benefícios ao gado, porque gera proteção e abrigo contra intempéries.

Fonte: Forest News

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